História segundo João Paulo Suzuki

por ariane — publicado 28/06/2018 09h10, última modificação 17/08/2018 17h47
Resumo do livro "Álvares Machado - Uma Saga Japonesa" do autor João Paulo Suzuki, que tem como objetivo informar a história da colônia japonesa na cidade

A influência japonesa sobre o início de nossa cidade, foi imensa. Ouve um volume de pessoas que chegou até aqui a partir de 1917 provenientes do Japão, tanto que ainda hoje podemos notar essa presença.

O nome Brejão partiu de sugestão de Hoshina e Ogassawara, com o intuito de vender estas terras para o plantio de arroz e atrair os japoneses para o cultivo da lavoura. O núcleo nipônico de Álvares Machado foi um dos primeiros do Brasil.

Os primeiros lotes da cidade foram adquiridos por Hoshina e outros por Ogassawara

Kenitiro Hoshin, era negociante de terras, enfrentou várias demandas e acabaria sendo assassinado em 1926, nas proximidades da estação ferroviária de Álvares Machado. Antes de vir para Machado, ele esteve na Argentina e nos Estados Unidos a procura de terras boa para plantio de arroz.

As terras na época eram anunciadas pelo Shuukan Nambei-jornal. Seria a primeira publicação em japonês do Brasil.

Em setembro de 1917 Tokuda já estava por aqui, contratado para ganhar 8 mil reis por dia de trabalho como operário de uma empreiteira.

Tokuda conheceu Hoshina que o convidou para voltar ao Brejão.

Durante esses anos por aqui se passaram diversas familias japonesas, entre eles:Ryotaro Miyashita, Jiroo Okabe (missionário japonês),  Sukedi Kussaba e os irmãos Tetsuo, Izoo Mori, Komahei Shibuya, Kenjiro Mukai, Kanno, Tateishi, Takata, Ide, Nishimura, Hatsumura, Higashibaraa, Aoki, SAnzoo, Hirata, Watanabe, Takara, Kamemaso, Honda, Suzuki, Kuwabara, Iseki, Maehata, Ide, Kuwabara, Utida, Nishizawa, Takei, Ito, Miyashita, Yoshio, Yamashita e Yoshinaga.

Segundo as principais famílias que aqui chegaram, nenhuma outra colônia japonesa houve um ingresso tão numeroso de pessoas do mesmo clã, eram mais de 57 pessoas que aqui chegaram em 1918.

Trem

O trem em Álvares Machado era oferecido nas propagandas de Hoshina como um dos atrativos para os colonos japoneses se instalarem aqui. A estrada ferroviária mantinha relações com a cidade de Indiana para o pouso de gado. A via entrou em funcionamento no início do século onde seguia as margens do Rio Santo Anastácio até o “Paranazão”, cortando Álvares Machado ao sul.

Na vinda do clã Ogassawara para a cidade, de São Paulo a Indiana, foram mais de 20 horas de viagem pela Maria Fumaça. Ao chegar em Indiana receberam a informação que não havia trem de passageiros para o Brejão (nome antigo da cidade). A boa notícia, apesar de tudo, é que um trem de carga logo partiria levando animais e, caso não se incomodassem de viajar nas chamadas “gaiolas”, poderiam seguir seu destino. Além do desconforto ao compartilhar espaço com os animais, tiveram que caminhar mais de três quilômetros pela floresta até chegarem nas habitações.

Conflito pelas terras

A fundação oficial de Álvares Machado se deu em 19 de março de 1916, por Manoel Francisco de Oliveira, conhecido como “sitiante grande”.

Os conflitos de terras eram significantes e o local inóspito possuía a pecha de violento. Ryotaro Miyashita até lembra que, ao contrário das propagandas de Hoshina falando ser o local um “reino de paz”, na realidade, Brejão chegava a ser sinônimo de assassinatos, devido aos sucessivos embates pela posse das terras.

A visita do cônsul japonês

Em uma terça-feira, dia 3 de junho de 1924, o cônsul japonês Tatsuke chegou em Álvares Machado, em um trem especial oferecido pelo Estado de São Paulo onde visitava o interior paulista. O mesmo frequentou a primeira escola de japonês no bairro Brejão, onde foi recepcionado com discursos, jantar e até chegou a cantar. No dia seguinte, visitou toda a colônia e assistiu a uma apresentação especial de teatro para o visitante na escola Nishibu.

O cemitério japonês

O monumento que individualiza a colônia japonesa em Álvares Machado e que sedia todos os anos a solenidade de shokonsai, é um cemitério, o único da América Latina eminentemente nipônico. Edilene Takenaka diz que o cemitério surgiu em fins de 1918, onde o mesmo foi preparado em um canto de área de cinco alqueires.

Como aqui não havia cemitério, os corpos tinham que ser sepultados na localidade de Veado (Presidente Prudente), a 15 quilômetros. Diante o aumento de pessoas e as condições insalubres – ocorriam casos frequentes de malárias, outras doenças e assassinatos – o cemitério era uma grande necessidade.

O clã Ogassawara tinha ganho 500 ienes do jornal japonês “Osaka Mainichi Shimbum”, para que fosse utilizado em benefício da colônia. Portanto, os recursos foram destinados a implantação do cemitério e de uma escola.

Em 1943, durante a Segunda Guerra, o governo brasileiro proibiu novos sepultamentos no cemitério japonês. Este foi tombado como patrimônio histórico pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico e Arqueológico Artístico do Estado) pela Resolução nº 23 de 11 de julho de 1980. O cemitério se localiza na estrada vicinal que liga o município ao distrito de Coronel Goulart.

O único brasileiro

Das 784 pessoas sepultadas no cemitério japonês de Álvares Machado, há apenas um não descendente nipônico: Manuel da Silva. Este foi ajudar um grupo de japoneses que tinha um invasor na casa de Izoo Takada. No meio da confusão o desconhecido estava munido de uma “peixeira” e todos do grupo foram esfaqueados. Estes infelizmente faleceram, dentre eles o único brasileiro no dia 3 de janeiro de 1920.

Shokonsai

Dois anos após a fundação do cemitério, as mais de 70 famílias japonesas que havia no Brejão, manifestaram a vontade de fazer uma celebração para os mortos. Na primeira vez, além da celebração pelos antepassados, houve uma luta de sumô em homenagem aos falecidos. Dois anos depois, o evento passou a chamar “Shokonsai”, que significa “Convite às almas para celebrar” ou “Culto aos heróis”.

É realizado até os dias atuais, no segundo domingo do mês de julho. Inicia-se com uma celebração na capela budista, localizada dentro do cemitério, prosseguindo-se com atividades recreativas e apresentações artísticas tipicamente japonesas, em reverência à memória e sofrimento dos falecidos.

A primeira escola

Os pais dos alunos se cotizaram para custear a construção, com paredes de troncos de coqueiro e assoalho de tábuas. Em 16 de dezembro de 1919, uma terça-feira, as aulas começaram no galpão de 60 metros quadrados. O primeiro professor, Fukutome, revela que embora não conhecesse profundamente a língua portuguesa, sabia o quanto era necessário aos imigrantes aprenderem o idioma da nova terra para conhecerem, além da língua, a cultura e os costumes do lugar e participarem ativamente das várias atividades.

A aprovação da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo oficializa a escola em janeiro de 1923.

As primeiras associações

A primeira delas foi a Jijikai e a outra seria a Dooshikai. Durante três domingos de outubro de 1919, a moradia do professor Shiguemasa Fukutome serviu de ambiente para que se reunissem e pretendessem organizar uma entidade que coordenasse as atividades da colônia. Naoe Ogassawara foi nomeado como primeiro presidente, escolhido por campanha eleitoral. Também foi fundada uma associação de jovens, denominada Rengoo.

Atualmente há cerca de 37 membros de 14 a 24 anos que formam o Danjo-Seinenkai da Associação Cultural Esportiva Agrícola Nipo-Brasileira de Álvares Machado. Sua finalidade é manter e divulgar a cultura japonesa, participando de diversas atividades da colônia e demonstrando a importância do trabalho coletivo.

Crescimento da colônia

Já chegavam colonos também de outras nacionalidades que contribuíram para o desenvolvimento do lugar. Em 1925, havia uma linha telefônica que permitiaa comunicação com Presidente Prudente e Santo Anastácio. Já em 1927, Álvares Machado foi elevado à categoria de distrito de Presidente Prudente. Um ano depois, os serviços de eletricidade chegaram à cidade através de uma linha de transmissão de 11 mil volts.

Os templos budistas

O budismo é uma das duas principais religiões do Japão. Ele refere-se a uma relação harmoniosa com a natureza e com os antepassados. A paz espiritual alcançada através da meditação faz com que os japoneses alcancem uma disciplina que os auxilia na criação de um estilo de vida próprio que se compatibiliza com as dificuldades.

Atualmente Álvares Machado possui dois templos: O Koboji, na rua Fernando Costa, e o Anrakoji, na rua Monsenhor Nakamura. No caso deste último, foi preciso uma autorização para a construção, pois a religião oficial do país na época era o catolicismo. Assim que concedida foi levantada a primeira torre de ossários do Brasil, inaugurada em 18 de junho de 1950. Houve ainda um terceiro templo budista, o “Daishidoo Myooshoo-jl”, que se situava na Avenida das Américas, mas sofreu um incêndio e foi totalmente destruído. Com isso, os membros dessa denominação se agruparam ao Kaboji.

Padre Nakamura

Monsenhor Nakamura veio para o Brasil em 1923, a fim de atender as famílias japonesas imigrantes. Ele tinha quase 60 anos, era padre havia 26 na ilha de Amami-Oshima, no sul do Japão, mas não relutou em distribuir o que tinha aos pobres do lugar e remar para o Brasil.

O padre percorria cafezais e matas do interior para levar sacramento aos católicos. Além de batizar pessoas e distribuir comunhões, fazia longas palestras que cativava até quem não era católico. Oficialmente, Nakamura batizou 1750 pessoas, 400 delas machadenses.

Os moradores resolveram construir uma capela católica no bairro e passaram a recolher doações. A obra foi em regime de mutirão e, no final, sucedia uma simples construção de madeira bruta. Havia missa semanalmente e, após a celebração, o padre ensinava catequese aos jovens. À noite, o sacerdote visitava os demais imigrantes japoneses que não eram católicos e deste modo, cativava muitas famílias.

Monsenhor Nakamura faleceu as quatro horas da tarde de uma quinta-feira, 14 de março de 1940, em Álvares Machado. Ele deixou um primíssimo legado de evangelização e solidariedade diante a população do município. Desde 1991 há um museu em sua homenagem no largo da Igreja Matriz.

Plantio

O algodão surgiria na área para substituir o café, vítima das geadas de 1931 e 1932, além da crise econômica que atingir o setor da época. Para vender o que produziam, precisavam colocar um saco e meio de feijão no lombo de burros e percorrer 15 quilômetros até o armazém.

A produtividade da batata alcançava cinco anos. O milho da região tinha pés com três metros de altura e cada alqueire chegava a produzir 250 sacas na safra. O algodão alcançava 500 arrobas por alqueire.

A crise cafeeira também incentivou a criação do bicho-da-seda, ou sericultura, como alternativa. Já em 1931, havia mais de 30 famílias trabalhando com isso. A produção de casulos em Álvares Machado atingiu 3 mil quilos por ano, embora, no período da guerra, os sericultores fossem chamados de anti-patriotas, pois a produção serviria de matéria-prima para a fabricação de paraquedas dos soldados aliados que lutavam contra o Japão.

Em 1939 a “febre” foi pela hostelã. Miyashita diz que a maioria plantou hortelã, desde médicos, advogados e até mesmo o padre. Diante isso, o preço do quilo do produto caiu de 300 mil réis em 1943 para 70 mil réis no ano seguinte. Instalaram-se fábricas na cidade para processar o produto entre elas a Brasmentol e outra localizada, na época, no centro da cidade.

Os japoneses que trabalhavam a terra nessa época se preocupavam cada vez mais em atingir a produtividade e qualidade. Para incentivar esse objetivo, promoviam competições entre os agricultores que cultivavam amendoim, milho, batata, algodão, cebola, arroz e feijão. A colônia, assim, realizava exposições agrícolas para mostrar os produtos colhidos.

Escola de corte e costura

Em 11 de fevereiro de 1937, na rua Fernando Costa, num local alugado, dirigido por Kizzo Hirata, a escola iniciava suas atividades com três alunas. Com o crescimento do número de alunas, em 1938 a sócia Setsuko Harada alugou o salão da associação e transferiu a escola para onde se encontra o Kaikan, onde ficaria por quinze anos.

Como muitas moças residiam nas propriedades rurais, funcionou na escola também o regime de internato. Apesar das dificuldades que enfrentaram durante um longo período, as solenidades de formatura eram glamorosas. Havia bailes, apresentações artísticas e exposições das peças produzidas pelas alunas. As formaturas promoviam a interação entre japoneses e brasileiros, que em certos momentos, encontravam-se abaladas.

Gateball

O interesse pelo esporte na cidade surgiu em meados dos anos 1980. A associação de Álvares Machado mantém sua equipe de gateball a mais de 20 anos e frequentemente participa de competições na região e até em outros estados. São três as categorias existentes: prata (até 59 anos), ouro (de 60 a 71 anos), e diamante (para participantes de 72 anos acima).

No gateball o objetivo é vencer etapas. Sempre há equipes com uniformes vermelhos e brancos – lembrando as cores da bandeira japonesa – e cada time tem cinco participantes.

Álvares Machado possui um campo no bairro Parque dos Orixás, com 300 metros quadrados (15x20), apesar do oficial medir 500 m2 (20x15). Há, na cancha, três gates – pequenos arcos – e o goal, uma pequena estaca implantada no centro.

A ACEAM hoje

A Associação Cultural Esportiva e Agrícola Nipo-Brasileira de Álvares Machado (ACEAM) reúne atualmente mais de 150 famílias nipônicas do município e são muitas as atividades desenvolvidas. Percebe-se que a colônia japonesa permanece ativa e realiza eventos com dinamismo, demonstrando o espírito colaborativo que caracteriza o povo nipônico.